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Médicos fazem mal à saúde?

A entrevista abaixo transcrita é bastante polêmica e questiona algumas verdades que genericamente temos como absolutas. Tenho muito cuidado ao falar sobre o assunto, pois a ciência ou mais especificamente, a ciência médica ocupa um lugar importante em nossa sociedade e não pode ser desprezada como inútil ou dispensável. Porém, em minha experiência pessoal tenho visto que, mesmo os médicos, conscientemente ou não, são vítimas desse sistema industrial da doença e muitas vezes atuam como meros instrumentos repetidores.  A denúncia desse autor é especialmente importante por ele ser médico de formação e é importante que os próprios médicos comecem a questionar o sistema em que estão inseridos, pois o caminho que vamos tomando é preocupante. Se falarmos do Brasil então, a coisa piora exponencialmente: quanto a isso tive uma experiência pessoal traumática na qual fui obrigado a sair do meu conforto de classe média que possui plano de saúde (que já não funciona tão bem assim) e tive que enfrentar o sistema público de sáude para tentar internar uma parente. Já vi muito em jornais essas cenas de hospitais lotados e más condições de atendimento, etc, mas assistir pela televisão, sentado na minha confortável poltrona e estar lá dentro, no inferno (se há inferno, não consigo imaginar como algo muito diferente daquilo que vi) são coisas bem diferentes. Ao tentar reclamar, fui surpreendido pelas lamentações dos médicos de plantão sobre as condições em que são obrigados a trabalhar e tive que concordar e me solidarizar com eles. Sinceramente, não sei que tipo de couraça é necessária para voltar para casa e conseguir dormir em paz depois de um plantão nesse hospital público. Algumas horas nesse local me deixaram uma noite sem dormir, mas essa é a condição que a maioria da população enfrenta. Não vou entrar em detalhes sobre o ocorrido, mas para não deixar de dar nomes, o hospital em questão é o Hospital Estadual Azevedo Lima, em Niterói.

Vamos à entrevista.

*Por Sérgio Gwercman

“Os médicos estão entre as três maiores causas de morte atualmente”*

*Um selo colado na testa advertindo sobre os perigos que podem causar à
saúde. Se dependesse do inglês Vernon Coleman, esse seria o uniforme ideal
dos médicos. Dono de um diploma em medicina e um doutorado em ciências,
Coleman abandonou a carreira após dez anos de trabalho para ganhar a vida
escrevendo livros com títulos sugestivos do tipo Como Impedir o seu Médico
de o Matar.**

Autor de 95 livros, o inglês é um auto-intitulado defensor dos direitos dos pacientes. Em seus textos, publicados nos principais jornais do Reino Unido, costuma atacar a indústria farmacêutica – para ele, a grande financiadora da decadência – e, principalmente, os médicos que recusam tratamentos que excluam a utilização de remédios e cirurgias. Dono de opiniões polêmicas, Coleman ainda afirma que 90% das doenças poderiam ser curadas sem a ajuda de qualquer droga e que quanto mais a tecnologia se desenvolve, pior fica a qualidade dos diagnósticos. *

*Como um médico deve se comportar para oferecer o melhor tratamento possível a seu paciente?**
*
Os médicos deveriam ver seus pacientes como membros da família.
Infelizmente, isso não acontece. Eles olham os pacientes e pensam o quão
rápido podem se livrar deles, ou como fazer mais dinheiro com aquele caso.
Prescrevem remédios desnecessários e fazem cirurgias dispensáveis. Ao lado
do câncer e dos problemas de coração, os médicos estão entre os três maiores
causadores de mortes atualmente. Os pacientes deveriam aprender a ser
céticos com essa profissão. E os governos, obrigá-los a usar um selo na
testa dizendo “Atenção: este médico pode fazer mal para sua saúde”.

*Qual a instrução que pacientes recebem sobre os riscos dos tratamentos?**
*
A maior parte das pessoas desconhece a existência de efeitos colaterais. E
grande parte dos médicos não conhece os problemas que os remédios podem
causar. Desde os anos 70 eu venho defendendo a introdução de um sistema
internacional de monitoramento de medicamentos, para que os médicos sejam
informados quando seus companheiros de outros países detectarem problemas.
Espantosamente, esse sistema não existe. Se você imagina que, quando uma
droga é retirada do mercado em um país, outros tomam ações parecidas, está
errado. Um remédio que foi proibido nos Estados Unidos e na França demorou
mais de cinco anos para sair de circulação no Reino Unido. Somente quando os
pacientes souberem do lado ruim dos remédios é que poderão tomar decisões
racionais sobre utilizá-los ou não em seus tratamentos.

*Você considera que os médicos são bem informados a respeito dos remédios que receitam a seus pacientes?*

A maior parte das informações que eles recebem vem da companhia que vende o
produto, que obviamente está interessada em promover virtudes e esconder
defeitos. Como resultado dessa ignorância, quatro de cada dez pacientes que
recebem uma receita sofrem efeitos colaterais sensíveis, severos ou até
letais. Creio que uma das principais razões para a epidemia internacional de
doenças induzidas por remédios é a ganância das grandes empresas
farmacêuticas. Elas fazem fortunas fabricando e vendendo remédios, com
margens de lucro que deixam a indústria bélica internacional parecendo
caridade de igreja.

E o que os pacientes deveriam fazer? Enfrentar doenças sem tomar remédios?


É perfeitamente possível vencer problemas de saúde sem utilizar remédios.
Cerca de 90% das doenças melhoram sem tratamento, apenas por meio do
processo natural de autocura do corpo. Problemas no coração podem ser
tratados (não apenas prevenidos) com uma combinação de dieta, exercícios e
controle do estresse. São técnicas que precisam do acompanhamento de um
médico. Mas não de remédios.

*Receber remédios não é o que os pacientes querem quando vão ao médico?**
*
É verdade que muitos pacientes esperam receber medicamentos. Isso acontece
porque eles têm falsas idéias sobre a eficiência e a segurança das drogas. É
muito mais fácil terminar uma consulta entregando uma receita, mas isso não
quer dizer que é a coisa certa a ser feita. Os médicos deveriam educar os
pacientes e prescrever medicamentos apenas quando eles são essenciais, úteis
e capazes de fazer mais bem do que mal.

*Que problemas os remédios causam?**
*
Sonolência, enjôos, dores de cabeça, problemas de pele, indigestão,
confusão, alucinações, tremores, desmaios, depressão, chiados no ouvido e
disfunções sexuais como frigidez e impotência.

*Em um artigo, você cita três greves de médicos (em Israel, em 1973, e na Colômbia e em Los Angeles, em 1976) e diz que elas causaram redução na taxa de mortalidade. Como a ausência de médicos pode diminuir o risco à vida?**
*
Hospitais não são bons lugares para os pacientes. É preciso estar muito
saudável para sobreviver a um deles. Se os médicos não matarem o doente com
remédios e cirurgias desnecessárias, uma infecção o fará. Sempre que os
médicos entram em greve as taxas de mortalidade caem. Isso diz tudo.

*Muitas pessoas optam por terapias alternativas. Esse é um bom caminho?*

Em diversas partes do mundo, cada vez mais gente procura práticas
alternativas em vez de médicos ortodoxos. De certa maneira, isso quer dizer
que a medicina alternativa está se tornando a nova ortodoxia. O problema é
que, por causa da recusa das autoridades em cooperar com essas técnicas,
muitas vezes é possível trabalhar como terapeuta complementar sem ter o
treinamento adequado. Medicina alternativa não é necessariamente melhor ou
pior que a medicina ortodoxa. O melhor remédio é aquele que funciona para o
paciente.

*Em um de seus livros, você afirma que a tecnologia piorou a qualidade dos diagnósticos. A lógica não diz que deveria ter acontecido o contrário?*

Testes são freqüentemente incorretos, mas os médicos aprenderam a acreditar
nas máquinas. Quando eu era um jovem doutor, na década de 70, os médicos
mais velhos apostavam na própria intuição. Conheci alguns que não sabiam
nada sobre exames laboratoriais ou aparelhos de raio X e mesmo assim faziam
diagnósticos perfeitos. Hoje, os médicos se baseiam em máquinas e testes
sofisticados e cometem muito mais erros que antigamente.

*Você faz ferrenha oposição aos testes médicos realizados com animais em laboratórios. De que outra maneira novas drogas poderiam ser desenvolvidas?*

Faz muito mais sentido testar novas drogas em pedaços de tecidos humanos que
num rato. Os resultados são mais confiáveis. Mas a indústria não gosta
desses testes porque muitos medicamentos potencialmente perigosos para o
homem seriam jogados fora e nunca poderiam ser comercializados. Qual o
sentido de testar em animais? Existe uma lista de produtos que causam câncer
nos bichos, mas são vendidos normalmente para o uso humano. Só as empresas
farmacêuticas ganham com um sistema como esse.

*O que você faz para cuidar da saúde?**
*
Eu raramente tomo remédios. Para me manter saudável, evito comer carne, não
fumo, tento não ficar acima do peso e faço exercícios físicos leves. Para
proteger minha pressão, desligo a televisão quando médicos aparecem na tela
apresentando uma nova e maravilhosa droga contra depressão, câncer ou
artrite que tem cura garantida, é absolutamente segura e não tem efeitos
colaterais.

*Copyright © Abril S.A. Superinteressante – fevereiro 2004*

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